Família dos EUA tenta descobrir onde mãe com problemas mentais deixou os filhos

Publicado em: 12 novembro 2014 ás 12:57:42

WASHINGTON — Por mais de uma década, Lindsey Hoggle tentou entender a mente confusa da filha. Nunca foi tão devastador. Suas conversas nestes últimos dias duram 20 minutos no máximo. Todas por telefone.

— Eu estou pedindo para você como mãe — Lindsey implorou à filha no início deste mês. — Diga onde as crianças estão.

Trancada em um hospital psiquiátrico em Maryland, Catherine Hoggle desconversou. Ela fez isso por dois meses — com detetives, um terapeuta e com a família. A mulher, de 27 anos, é a última pessoa conhecida a ter estado com os seus filhos mais novos: Jacob, 2 anos, e Sarah , 3. A polícia teme que as crianças estejam mortas e investiga um caso de homicídio contra Catherine.

Todos os dias, em todo o condado, famílias com jovens pais com doença mental enfrentam o desafio de tentar ajudá-los e a seus filhos. Os parentes de Catherine tinham conseguido forjar uma rede de confiança — reordenando suas vidas para tentar ter sempre um outro adulto perto da mulher e dos três filhos. Ela parecia estar ficando cada vez melhor.

Lindsey não pode suportar a ideia de que seus netos estejam mortos, e muito menos pode imaginar que sua filha seja uma assassina. O carinho que Catherine mostrava pelos filhos e a possibilidade de que a esquizofrenia da jovem fizesse que ela tomasse atitudes inexplicáveis, mas não mortais, dão uma esperança à mãe.

Os primeiros sinais de problema vieram quando Catherine, a mais velha de quatro filhos, estava no ensino médio. Ela era brilhante, mas cada vez brigava mais com os outros alunos. Foi diagnosticada com uma deficiência de aprendizagem — problemas com “funções executivas”, tais como planejamento e organização. Depois vieram as preocupações dos médicos sobre as variações de humor e o transtorno bipolar.

Após terminar os estudos, Catherine se matriculou em uma faculdade comunitária em Montgomery e, até o outono de 2007, servia mesas em um bar, onde se apaixonou por um segurança chamado Troy Turner.

— Foi um como um conto de fadas — ela diria mais tarde.

No outono de 2008, Catherine deu à luz seu primeiro filho, um menino, e a família começou uma vida em Harrisonburg. Para dar ao jovem casal uma pausa, Lindsey planejou cuidar do bebê por dois dias. Quando estava saindo de casa com o neto, Catherine encheu seu bolso com instruções de como preparar a mamadeira, horários sobre a alimentação, ou um lembrete para manter travesseiros para fora do berço. Além do nível extremo de atenção, Troy também começou a notar algo preocupante: Catherine começou a imaginar que pessoas de fora queriam acabar com sua família. Ele atribuiu o sintoma à depressão pós-parto, uma explicação que parecia plausível na medida em que o comportamento diminuiu.

Pouco depois, o casal teve uma menina, Sarah , em 2010, e mais um menino, Jacob, em 2012. Eles se mudaram para um apartamento de três quartos em Montgomery, a uma curta distância de uma piscina pública, parques e playgrounds para as crianças. Mas os problemas de Catherine voltaram. Para o marido, a mãe e quem a conhecia melhor, parecia que Catherine tentava se controlar, ocultando informações básicas.

O que acabou levando à paranoia. Em 2013, Catherine se convenceu de que a irmã de Troy estava invadindo regularmente seu apartamento e entrou com uma ação judicial alegando que ela havia roubado um pacote de roupas de US$ 12 e um brinquedo de plástico de US$ 30.

Catherine também disse que a mulher a estava seguindo.

— Nós vamos ao supermercado, ela aparece lá. Nós começamos a ir a um supermercado diferente, ela começa a aparecer lá também — disse Catherine ao juiz Barry Hamilton. — Eu vou levar meus filhos ao pediatra, ela aparece lá. Eu vou para casa da minha mãe, ela também vai.

O juiz recusou o pedido de Catherine para emitir uma ordem de restrição. Quanto às alegações de roubo, que foram revisadas pela Procuradoria do Estado de Montgomery, nada foi comprovado.

Troy e outros membros da família decidiram então procurar uma avaliação psiquiátrica ordenada pelo tribunal. Em 13 de agosto de 2013, Catherine foi levada a um hospital. Autoridades foram chamados ao apartamento mais duas vezes. Até o fim do ano, a condição dela voltou a piorar e ela foi levada involuntariamente ao maior hospital psiquiátrico privado em Maryland, ao norte de Baltimore.

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O objetivo do sistema de saúde mental dos Estados Unidos é fazer com que os pacientes voltem para suas comunidades. Na primavera, Catherine melhorava graças a programas de transição que lhe permitiram ver seus filhos. Começou a tomar regularmente a medicação e parecia entender que ela precisava dos remédios para manter a doença sob controle e estar perto das crianças.

REDE DE SEGURANÇA

Troy observou o progresso de Catherine e não queria levar as crianças para longe da mãe. Ele não achava que a mulher intencionalmente machucaria as crianças. Ainda assim, sabia que seus delírios poderiam voltar sem aviso prévio e não queria que ela ficasse sozinha com os filhos pequenos. Para evitar isso, os membros da família articularam uma estratégia de longo prazo, formando uma rede de segurança — que incluía os pais da jovem, Lindsey e Randy, a mãe de Troy e sua irmã, os irmãos de Catherine, amigos de Troy e uma babá. E tentavam ter sempre um segundo adulto perto de Catherine e dos filhos.

Na manhã de 7 de setembro, um domingo, Troy e Catherine levaram Jacob e Sarah para assistir ao jogo de futebol do irmão mais velho (que não foi identificado a pedido da família). Em seguida, foram para um parque até a hora de Troy ir ao trabalho, à tarde. Ele dirigiu até a casa de Lindsey, que tinha saído, mas combinou com seu ex-marido e avô das crianças, Randy, que ficaria com Catherine e os filhos.

Por volta das 16h, a jovem contou ao pai que tinha um cupom de desconto para uma pizza e pediu emprestado o carro para buscá-lo. O filho mais novo, Jacob, estava agarrado a ela — que pediu para levá-lo também. Randy concordou. Duas horas depois, Catherine voltou sozinha e disse que havia deixado Jacob na casa de um amigo para uma festa do pijama. Todos voltaram para o apartamento em Clarksburg.

Troy chegou do trabalho por volta de meia-noite. Notou que Jacob não estava no quarto principal, o que não era incomum, já que o menino muitas vezes se levantava e ia dormir com o irmão mais velho. Na manhã seguinte, Randy, o pai de Catherine, saiu mais cedo. Logo depois, Troy foi acordado pelo filho mais velho, ansioso para ir à escola. Foi então que percebeu que Catherine e os dois filhos mais novos não estavam em casa.

Preocupado, ligou para a emergência e disse ao operador que seus dois filhos mais novos e a mãe haviam sumido com o carro da família. Durante a chamada, Catherine apareceu.

— Acordei mais cedo e não quis te acordar. Levei Sarah e Jacob para uma creche que está fazendo um programa de teste, em Germantown — disse.

Mesmo chateado, a história soou verdadeira e ele desligou a ligação. O marido levou Catherine para o programa de tratamento, e depois de buscá-la, duas horas depois, disse que queria ir ao encontro dos filhos. Catherine disse que não lembrava o nome da creche, mas poderia levá-lo até lá. Quanto mais eles se aproximavam do local, no entanto, mais evasiva ela ficava.

Horas se passaram, e Troy disse que tinha de ir a uma delegacia. No caminho, Catherine pediu para parar em um restaurante de fast-food para beber algo. E fugiu pela porta dos fundos. Foi encontrada apenas quatro dias depois. A polícia a interrogou por horas, e não descobriu nada sobre o paradeiro das crianças. Quando Troy apareceu, a mulher perguntou:

— O que você está fazendo aqui? — disse, calmamente.

— Eu estou aqui, espero, para descobrir onde os meus filhos estão. E também estou aqui para ver você — respondeu.

Catherine falou enigmaticamente sobre os filhos, dizendo que os havia deixado com uma mulher chamada Erin.

Hoje, Catherine está sendo tratada em um hospital psiquiátrico de segurança máxima, onde os médicos estão avaliando se ela está bem o suficiente para participar de processos judiciais. Ela recebe visitas de alguns membros da família, que perguntam sobre Sarah e Jacob.

— Eles estão bem, papai — Catherine disse recentemente a Randy. — Eu prometo a você que eles estão vivos. Mas não posso falar onde eles estão.

Na quinta-feira passada — sabendo que o Ministério Público de Montgomery estava prestes a aceitar uma oferta da própria Catherine de levar a polícia ao local onde os filhos estariam supostamente — Troy e Lindsey tomaram seus lugares em um tribunal e pediram para que ela tivesse permissão para deixar o hospital.

Catherine foi levada até o julgamento, com as mãos algemadas atrás das costas, uma expressão vazia no rosto. Lindsey tentou fazer contato com os olhos, mas a filha desviou o olhar. Seu advogado, David Felsen, disse que a jovem mudara de ideia e acabara de lhe dizer que não queria falar com a polícia ou ir a qualquer lugar com eles.

Em sua primeira aparição, Catherine não olhou para a família ou amigos. Falou em voz baixa e calma, dizendo ao juiz que estava melhor e sabia a razão de estar no tribunal, mas não entendia muitas as acusações.

Fonte: O Globo