Saiba quem são e o que dizem os ativistas presos pela polícia do RJ

Publicado em: 18 julho 2014 ás 14:02:10

Dezessete pessoas foram presas por suspeita de formação de quadrilha e presas na véspera da final da Copa no Rio, investigadas por suspeita de planejar um protesto violento para o dia decisivo do Mundial. Por meio de advogados, “companheiros de luta”, amigos e redes sociais, o G1 traçou um breve perfil dos manifestantes – 12 deles libertados na madrugada desta quinta-feira (17) após um habeas corpus, mas a polícia disse que pedirá a prisão preventiva e indiciará todos os 26 investigados. O inquérito será entregue nesta sexta-feira (18) ao Ministério Público do Rio (MP-RJ).

Entre os ativistas há professores de sociologia, filosofia e história. Alguns, grevistas. Advogadas. Uma jornalista. Casais de namorados. Outros tantos estudantes. Há também mascarados, que assumem a violência como forma de atuação política. Em meio à “quadrilha” apontada pela polícia, as matizes políticas variam: comunistas, socialistas, sociais-democratas e anarquistas, nas palavras do advogado Marino D’Icarahy, que defende alguns.

O inquérito da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, que corre em sigilo, foi divulgado de forma lacônica: os investigadores garantem ter provas concretas da acusação generalizada. Na ausência de detalhes sobre as prisões, dezenas de instituições emitiram notas de repúdio. Dentre elas, a Anistia Internacional e a Justiça Global. Na decisão judicial, a qual oG1 teve acesso, há apenas uma página (veja ao lado). Refere-se a “indícios suficientes” para a prisão, mas a falta de informação virou alvo de crítica da defesa.

“A decisão não individualiza nenhuma conduta. Faz considerações genéricas. Apenas diz que existem [indícios] no inquérito. Quais são? Cadê a fundamentação”, questiona Lucas Sada, advogado do Instituto de Defesa de Direitos Humanos (DDH) e defensor de Joseane.

Veja abaixo o perfil dos manifestantes que seguem presos:

Elisa Quadros Pinto Sanzi, a Sininho
À frente dos protestos, sem máscara, é uma das principais vozes dos ativistas. Em nome do grupo, costumava conversar com policiais que acompanhavam a manifestação para negociar o rumo da caminhada. E também para discutir com eles, quando os ânimos se exaltavam e — não raro — o gás lacrimogêneo dominava o ambiente. Foi presa anteriormente, em 2013, durante um protesto, acusada de desacato.

Produtora de cinema, tem 28 anos e integrou o movimento “Ocupa Câmara”, que montou acampamento em frente à Casa para defender a CPI dos Ônibus. Militou também durante a greve de professores. É filha de Antonio Sanzi, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) no Rio Grande do Sul, para quem a jovem é “incapaz de violência”.

“É uma militante política, uma militante-ativista, como diz. Ela não é black bloc, nunca participou clandestinamente de nada, tem uma visão absolutamente crítica da tática dos black bloc. Ela é conhecida por milhares de pessoas, é uma pessoa doce, muito firme nas suas convicções, mas incapaz de violência”, disse o pai, em entrevista ao G1, em fevereiro.

Camila Aparecida Rodrigues Jourdan
Graduada em filosofia pela UFRJ e mestre formada pela PUC, Camila Rodrigues Jourdan é coordenadora do programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), onde dá aulas e é pesquisadora. Em nota, a diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Uerj, Dirce Eleonora Nigro, solicitou a liberdade imediata de Camila.”Trata-se de uma colega assídua, dedicada e íntegra”, diz o texto.

Na casa dela, segundo a Polícia Civil, uma bomba caseira foi encontrada. Marino D’Icarahy, advogado de defesa, diz que o flagrante foi forjado e ressalta que o material não foi apresentado à imprensa. Camila teve o cárcere prorrogado e pode ter a prisão temporária transformada em preventiva por conta do flagrante.

Igor Pereira D’Icarahy
Namorado de Camila Jourdan e filho de Marino D’Icarahy, um dos advogados de defesa dos ativistas, Igor é “simplesmente um ativista político”, na definição do próprio pai. Vegano, é anarquista e estudante de educação física na Uerj. A dupla foi presa em flagrante – forjado, segundo a defesa – devido à suposta bomba de fabricação caseira achada na casa de Camila. Marino disse ainda que Igor só foi preso porque dormia na casa da companheira no dia da operação desencadeada pela Polícia Civil.

Outros dois também seguem presos: Tiago Teixeira Neves da Rocha e Eduarda Olveira Castro de Souza. A defesa da dupla não foi encontrada. Todos eles podem ter a prisão preventiva transformada em temporária após pedido judicial, se, no entendimento do TJ-RJ, representarem risco à sociedade.

Joseane Maria Araújo Freitas
Prestes a completar 31 anos, a jornalista é funcionária da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Radialista da MEC, Jose, como é carinhosamente chamada, produz o programa “Arte Clube”. Empregados da empresa emitiram nota de repúdio e compararam a prisão dos ativistas ao Ato Institucional Número 5 (AI-5), que endureceu a repressão durante a ditadura militar — e colocou inúmeros profissionais de comunicação na mira.

Gerente regional das rádios EBC, Xico Teixeira afirmou que não tem nada a dizer que possa “desabonar o serviço dela”. “Trabalha comigo, é atenta e uma boa produtora. É uma menina, e como toda jovem tem seus arroubos. É uma boa profissional”, opinou.


Gerusa Lopes Diniz
Bacharel em Direito pela Universidade Cândido Mendes, é recém-aprovada no exame da Ordem de Advogados do Brasil. Foi coordenadora do Dia do Basta à Corrupção, cuja página na internet informa que o projeto começou há “dois anos e foi iniciado por duas pessoas que lutavam a favor de um projeto de lei de iniciativa popular”. Como noticiou o G1 em 23 de junho de 2013, o Dia do Basta reuniu milhares de pessoas na orla da Zona Sul e transcorreu de maneira pacífica. É namorada de um ativista que teve a prisão decretada e encontra-se foragido.

Eloysa Samy Santiago
Engajada com as reivindicações que tomaram a cidade desde junho de 2013, a advogada Eloysa Santiago foi vista dezenas de vezes entre os manifestantes nos protestos que se tornaram frequentes no Rio. De perfil conciliador, já foi vista se apresentando a manifestantes mascarados durante o “Ocupa Cabral”, acampamento montado na porta do prédio do então governador Sérgio Cabral.

Ela apresentava a carteira da OAB e se oferecia para prestar assistência em caso de violência policial durante a madrugada. Dias antes, a ocupação fora desarticulada à força. Chegou a dormir acampada com o grupo. Cenas semelhantes se repetiram em manifestações como a “Ocupação da Telerj”.

Especializada em Direito Civil e Processo Civil também foi voluntária de ativistas detidos durante protestos na cidade. “Mergulhou de cabeça na militância”, segundo interlocutores próximos. Apaixonada por gatos, se destacou também na luta pelo direito dos animais. Na denúncia, um dos elementos contra Eloysa seria o de não cobrar honorários.

A OAB, que também tornou pública sua insatisfação com as prisões, conseguiu um habeas corpus para a advogada que, em vídeo publicado há quase um mês em redes sociais, se dizia “perseguida”. De acordo com o relato, ela vinha sendo avisada para se manter longe das manifestações para evitar que fosse presa.

Rebeca Martins de Souza
Foi contratada em 2010 como professora de Sociologia da Secretaria Estadual de Educação (Seeduc), após ser aprovada em concurso público um ano antes. De acordo com a própria Seeduc, participou de movimentos grevistas. Professora do Pedro II, recebeu a solidariedade de alunos, que, uniformizados, pediram a liberdade dos presos em protesto em frente ao Tribunal de Justiça na terça (15).

Em entrevista ao G1, Marta Moraes, uma das coordenadoras do Sindicato Estadual de Profissionais da Educação (Sepe) disse que não conhece pessoalmente a professora, mas manifestou sua preocupação por conta de uma suposta perseguição a trabalhadores que cruzaram os braços. “São milhares que fizeram a greve. Eles não são diretores do Sepe, são profissionais da educação que fizeram a greve, como é direito de qualquer trabalhador. É uma falsa democracia”, afirmou.


Karlayne Moraes da Silva Pinheiro e Gabriel da Silva Marinho
O casal de jovens é considerado radical mesmo entre ativistas, que, como eles, participaram de ocupações, como a da Câmara do Rio. Apesar de integrarem o grupo que acampava diante do Palácio Pedro Ernesto, na Cinelândia, não faziam parte da “cúpula” que dialogava com os políticos. Mesmo após o fim da ocupação interna da Casa, no dia 15 de outubro de 2013, continuaram acampados do lado de fora.

Quem os conheceu durante a ocupação é reticente sobre a “formação política” do casal. “Eles têm uma urgência em participar, sem saber como. Então chamam atenção e provocam a nossa democracia a reafirmar se ainda há um resquício do passado”, disse um conhecido. Em redes sociais, os dois declaram que consideram o estado fascista e não descartam o uso de força para combatê-lo.


Rafael Rego Barros Caruso
Técnico administrativo da UFRJ, participou da chapa radical do sindicato da classe, que, por sua vez, é extremamente crítico ao governo da presidente Dilma Rousseff. Em um dos protestos no ano passado, foi detido mesmo após ser atingido por uma bala de borracha na perna. Recusa-se a falar com a a “grande imprensa”.

Filipe Proença de Carvalho Moraes
Cantor e baixista da banda “Os Vulcânicos”, Filipe Proença, 34 anos, conhecido como “Ratão”, é professor de História em um colégio público, além de docente voluntário em um curso comunitário. É ligado ao Sepe, grupo que liderou greves de professores desde outubro de 2013. Inicialmente, a Seeduc negou que ele fosse contratado do estado. Depois, corrigiu-se e disse, ainda, que ele participou de protestos.

Coordenadora do Sepe, Marta Moraes disse que ele não é ligado à diretoria do Sepe. Em nota, ainda do sábado, o sindicato repudiou as prisões. “Entendemos como legítimas as manifestações organizadas pelas entidades civis em protesto contra os gastos com a copa do mundo e a situação degradante dos serviços públicos em nosso país, tal como a saúde e a educação.”


Felipe Frieb de Carvalho
Frieb, que estuda Belas Artes na UFRJ, é ligado a movimentos grevistas do Sepe (embora não seja ligado à diretoria) e também já atuou em ações do Movimento Sem Teto, de acordo com entrevista do próprio Felipe a um jornal da universidade.


Bruno de Sousa Vieira Machado
Morador de Niterói, participou de ocupação na UFF em 2012 pedindo educação pública de qualidade e autogestão na política estudantil. Crítico a partidos ditos de esquerda, como o PSTU e o PC do B, que também fazem volume nos protestos, costumava chamar os partidários das siglas de “pelego”.

 

Fonte: G1