Pastor Nelson Junior fala tudo sobre namoro

Publicado em: 10 agosto 2018 ás 15:48:18

“Até que todas as suas pendências emocionais estejam resolvidas, você não está maduro para entrar em um novo relacionamento”, afirma ele.

Por Monique Suriano
O idealizador do movimento “Eu Escolhi Esperar”, pastor Nelson Junior, concedeu entrevista exclusiva à equipe de Jornalismo da CADESC e contou tudo sobre o início da campanha de pureza sexual que ganhou repercussão nacional e angariou mais de 3 milhões e meio de seguidores nas redes sociais. Nelson Júnior é vice-presidente na Comunidade Base Church, no município de Vitória- ES, tem 20 anos de ministério pastoral, e viaja o país ministrando para os jovens sobre sexualidade e vida sentimental.

Bacharel em Teologia, pós-graduado em Gestão e Liderança, e mestre em Comportamento Humano, o pastor Nelson Júnior é ainda escritor de títulos como “Eu Escolhi Esperar”, “Enquanto você Espera”, “Eu Escolhi Mudar” e “Amor e Sexo”. Nelson Júnior é casado com Angela Cristina, e tem duas filhas: Ana Carolina, de 10 anos, e Milena, de 7. Confira a entrevista e aprenda mais sobre relacionamento cristão.

CADESC: Como surgiu o movimento Eu Escolhi Esperar?

Pr. Nelson Junior: O Eu Escolhi Esperar é a história da minha própria vida. Foi uma decisão que eu tomei. Eu aceitei a Jesus com 10 anos de idade, aos 12 anos eu ouvi uma palestra do pastor Jaime Kemp chamada “Quem Ama Espera” e naquele dia eu decidi que esperaria até o casamento. Mas anos depois, quando eu já estava casado e trabalhando com jovens e adolescentes, em abril de 2011, eu comecei uma campanha de pureza sexual no twitter, fazia lives e aquilo explodiu no Brasil. Seis meses depois eu já estava recebendo convites para pregar nas maiores igrejas do Brasil, foi tudo muito rápido, se espalhou muito rápido. A minha vida virou do avesso, eu saí na capa dos principais jornais e revistas e fui nos principais programas de televisão do país. Viajei muito. Em cinco anos eu vivi o que eu não tinha vivido nos outros 35 anos de vida.

CADESC: E o movimento consiste em quê?

Pr. Nelson Junior: É uma mensagem, uma decisão. A gente só encoraja e fortalece as pessoas. A campanha tem duas veias; a preservação sexual, que é encorajar os jovens a se preservarem sexualmente até o casamento, e a integridade emocional, mostrar ao jovem a importância de desenvolver relacionamentos saudáveis e duradouros e não descartáveis e momentâneos.  Hoje nós temos 3 milhões e meio de seguidores no Facebook, quase 2 milhões no Instagram, e o nosso canal do Youtube, onde eu faço vídeos com a minha esposa, está chegando a um milhão de inscritos.  Nós já rodamos o Brasil todo nos últimos 7 anos e 280 mil pessoas já participaram do seminário “Eu Escolhi Esperar” que nós realizamos nas igrejas.

CADESC: Você imaginou que a sua decisão pudesse influenciar a vida de tantas pessoas?

Pr. Nelson Junior: Jamais. Quando eu criei o movimento na internet, a minha ideia era que as pessoas que me ouviam pregar, porque eu pregava muito nas igrejas da minha cidade, me acompanhassem depois nas redes sociais. Meia hora de pregação é muito pouco, eu queria continuar falando sobre o tema para elas. Mas com o poder da internet, o movimento viralizou.

Existe a idade ideal para começar a namorar?

Quando as pessoas estão maduras. A adolescência, por exemplo, não é a fase em que nós estamos maduros para um relacionamento. Eu não encorajo um namoro na adolescência, eu descontruo esse conceito. Mas eu sei que essa é a turma que mais acha que tem necessidade de namorar, e também é a que mais se machuca. Eu acho que a idade para namorar não está ligada a idade cronológica, mas a idade emocional.

E essa maturidade significa também independência financeira?

Não necessariamente. Mas eu acho que o namoro cristão só deve iniciar quando o foco é o casamento. Namoro não é passatempo, é sempre focado no casamento. Claro que nem todo mundo que você vai namorar, necessariamente você vai casar. Mas o namoro serve para você conhecer melhor uma pessoa com o propósito do casamento.

Os irmãos da igreja costumam pressionar bastante os noivos para casarem logo. Existe um tempo mínimo para que o casal namore antes de casar?

Biblicamente não. Mas na prática, a gente não aconselha que ninguém case com menos de um ano de namoro. Os maiores índices de divórcios estão entre as pessoas que se casaram muito novas, antes dos 20 anos, ou que namoraram menos que 12 meses antes de se casarem. Mas eu também acho que mais de 3 anos de namoro é muito, porque a intimidade aumenta e é mais difícil se guardar até o casamento.

E como é defender a virgindade antes do casamento em pleno século XXI?

É um grande desafio. É andar na contramão. Na verdade, nós fazemos um resgate de um valor eterno de Deus, onde as gerações passadas viraram as costas e que se perdeu com o tempo. Porém, 70 por cento das pessoas que seguem o Eu Escolhi Esperar não são mais virgens. O nosso maior público é de pessoas que já tiveram experiência sexual, mas que agora querem se guardar.

“Amor se cura com outro amor” é uma expressão muito usada pelas pessoas, você concorda?

É a maior furada. O romance não é ‘Band-Aid’. Você não cura um amor colocando outro por cima. Até que todas as suas pendências emocionais estejam resolvidas, você não está maduro para entrar em um novo relacionamento. Mais uma vez eu digo que a maturidade não está ligada a idade, a pessoa pode ter 30 anos, e estar entulhada de sentimentos de trauma, de mágoa, de feridas de um relacionamento anterior. Primeiro ela tem que dar um tempo a si, ser curada, para então estar madura para um novo amor.

 Existe segredo para escolher a pessoa certa?

Não, existe propósito. Quando eu sei quem eu sou e qual é o meu propósito de vida isso é determinante para que eu escolha quem estará do meu lado.  Eu não acredito em pessoa certa, eu acredito em pessoas ideais. O problema é que hoje as pessoas se unem com propósitos diferentes, mas com conexões físicas: atração, paixão, química, aparência. Isso tem unido as pessoas, e quando elas percebem que o propósito não bate é quando elas já estão casadas e a química passou. É aí que surgem muitos divórcios.

O percentual de solteiros, pessoas que já passaram dos 30 anos, aumentou muito nos últimos anos, você também percebe o reflexo desse aumento na comunidade cristã?

Sim. Geralmente as pessoas que passaram dos 30 anos e ainda não casaram são pessoas frustradíssimas. E é um público que está ficando deslocado na igreja, porque nessa idade as pessoas já estão casadas, ou, as que estão solteiras são mais novas que elas. Elas já não se sentem confortáveis no culto de jovens, e nem no culto dos casados; estão perdidas na igreja. E geralmente não existe um departamento da igreja que cuide disso. E para as pessoas que já passaram dos 30, os desafios são maiores. Porque as pressões nessa área emocional e na sexualidade são mais profundas. São pessoas que já experimentaram uma vida sexual ativa e para encarar essa espera e encontrar um parceiro que também esteja disposto a esperar é muito mais difícil.

Você já pensou em abandonar o ofício de pastor para ter uma profissão?

Eu fui ordenado a pastor com 21 anos de idade e sempre fui muito apaixonado pela igreja. Mas antes disso eu queria ser jogador de futebol (risos). Também já tive uma vontade muito grande de ser um oficial das forças armadas ou delegado da polícia federal. Foram sonhos que eu tive antes do ministério pastoral. Mas depois do ministério pastoral eu vivi a paixão pelo ministério com muita intensidade e durante muitos anos eu não almejei outra coisa na vida. Mas o ministério é árduo, é pesado, é cansativo, é muita ingratidão, é uma coleção de decepções, e em alguns momentos, em momentos de escassez financeira, vendo as crianças crescerem e pensando no futuro da minha família, nesses momentos eu pensei sim, pensei em abrir uma empresa, vender alguma coisa, em ter uma outra fonte de renda. Mas todas as vezes que eu pensei sobre isso eu estava pensando no sustento da minha família, no futuro dos meus filhos. A idade vai chegando, hoje eu estou com 43 anos, e a única coisa que eu fiz na vida foi cuidar de igreja, mas nem sempre a igreja cuida de você. Então essa realidade é muito dolorosa. Quando eu tinha 21 anos eu fazia por paixão. Hoje eu ainda sou apaixonado pelo que eu faço, mas calejado das experiências que a gente vai acumulando nesses anos de ministério pastoral. Não consigo me ver fazendo outra coisa, mas me sinto tentado volta e meia (risos).